Lá, no âmago da jângal, vivia uma velha Coruja, com grandes olhos redondos e amarelos e tendo em cima da cabeça dois pequenos tapetes empinados como orelhas. Os meninos medrosos tem medo dela, porque, a coruja só voa à noite, e lança de quando em vez um pio esquisito que eles acham apavorante e fantasmagórico, mas todos os meninos habitantes da jângal sabem que ela é uma velha sábia, e boa para todos.
Em uma aldeia, próxima do mato, morava um alfaiate que tinha dois filhos, Tonico e João. Eles moravam com seu pai e sua avó, pois sua mãe havia morrido. A avozinha gostava muito deles, mas isto não impedia que continuamente os repreendesse pela sua preguiça e negligência e por serem porcalhões.
Quando brincavam, corriam e gritavam, derrubando os móveis, quebrando a louça, sujando a roupa, enfim, eram uns pestesinhos. Nunca pensaram no trabalho que davam aos outros, só pensavam em brincar.
Um dia, a avozinha contou-lhes como tudo era diferente em casa, anos passados, quando estavam lá os Anõezinhos Bons.
- O que é um Anãozinho Bom? – perguntaram os pequenos?
- Um Anãozinho Bom – disse a avozinha – é um homem pequenino, do povo das fadas, que entra em casa pela madrugada, antes de alguém as levantar, e acende o fogo, varre a casa, carrega a água, faz o café, espana os móveis e limpa o jardim; ele faz uma porção de coisas úteis, mas ninguém os vê. Foge de casa antes que alguém acorde, mas é um grande benfeitor anônimo. Todos ficam contentes com a visita do Anãozinho Bom, pois a casa fica sempre arrumada e limpa.
Desde esse dia, Tonico e João pensavam como poderiam conseguir a visita do Anãozinho Bom, porque assim não fariam uma porção de coisas que papai e vovó os obrigavam a fazer em casa. Apoquentaram a avó para saberem como poereiam arranjar a visita tão desejada. Ela lhes respondeu que o melhor seria consultar a velha Coruja, pois estava ao par de tudo que diz respeito as fadas, portanto, ninguém melhor do que ela poderia dizer aos meninos como encontrar os Anãozinhos Bons. Tonico, o mais velho, saiu depois do anoitecer, quando ouviu o pio da Coruja; imitou-a, aproximou-se dela e entabolou conversa. Tonico relatou sua infelicidade: em casa mandavam-no trabalhar sempre quando desejava brincar; se pudesse conseguir um Anãozinho Bom para vir diariamente ajudá-lo, não teria tanta coisa a fazer e a vida seria maravilhosa.
- Ú ÚÚ, ÚÚ – ÚÚ – ÚÚ – ÚÚ – ÚÚ – ÚÚ – UUUUÚ, disse a velha Coruja: “Você está vendo aquele lagoão? Vai para o lado norte, numa noite de lua cheia, depois faz três voltas no mesmo lugar e grita:
Sai, ó Anãozinho Bom,
Desta lagoa selvagem,
No fundo da qual eu vejo
Claramente a ____________
Para você encontrar o fim da quadra, olha na água; verá o Anãozinho Bom e a rima que você necessita”.
Quando chegou a noite de lua cheia, Tonico foi a o lagoão, rodou tr~es vezes e gritou:
Sai, ó Anãozinho Bom,
Desta lagoa selvagem,
No fundo da qual eu vejo
Claramente a ____________
Mas, quando olhou, ele nada viu senão o reflexo de seu rosto.
Voltou então à Coruja e disse que não viu ninguém senão seu reflexo na água, quando esperava ver o Anãozinho Bom que viria à sua casa fazer o trabalho que ele era obrigado a executar.
Pergunta-lhe, então, a Coruja:
- Não viu você nada cujo nome pudesses terminar e rimar os versos que eu ensinei?
- Não. – respondeu ele.
- Que foi que você viu na água? – perguntou a Coruja.
- Só a imagem de meu próprio rosto. – respondeu Tonico.
- Então? Pensa bem! – disse a Coruja.
- É verdade! – exclamou Tonico – Tem razão! Eu vi minha própria imagem. – e repetindo a rima terminou a quadra:
Sai, ó Anãozinho Bom,
Desta lagoa selvagem,
No fundo da qual eu vejo
Claramente a minha imagem.
- Mas, – retorquiu Tonico – eu não sou o Anãozinho Bom.
A Coruja respondeu:
- Não, mas você pode vir a ser um deles, depende somente de você. Você é um menino forte, sabe varrer a casa, é esperto bastante para preparar e acender o fogo, sabe encher uma chaleira e fazê-la ferver; você pode espanar a sala e arrumá-la, pode preparar bem o café e o desjejum; você pode arrumar sua cama, dobrar e guardar sua roupa; você bem poderia fazer tudo isso de manhã cedo, antes de seu pai e sua avó acordarem e eles, pela manhã, pensariam ter recebido a visita de uma boa Fada. Os Anõezinhos Bons são a gente miúda que faz tudo que é bom em casa. Existem casas que em vez de Anõezinhos Bons possuem os Capetas do Brejo. Estes são maus, verdadeiros demônios. Quando alguém deseja ficar quieto para ler ou escrever, ou quando se sente fatigado e quer repousar, os Capetas do Brejo começam a gritar, a urrar e aborrecem todo mundo.
Quando a casa está arrumada, eles chegam, desarrumam tudo, quebram os móveis e utensílios, e os outros que tratem de por, novamente, tudo em ordem. Eles são uns sujos preguiçosos e não ajudam ninguém.
Os Capetas do Brejo são como as bestas horríveis e em nada se parecem com os Anõezinhos Bons. Mas os Anõezinhos Bons também não são realmente do povo das Fadas. São simplesmente bons meninos ou meninas de casa que se transformam em Anõezinhos Bons, levantando-se cedo para fazerem suas boas ações, em lugar de ficarem na cama até tarde e se comportarem como os Capetas do Brejo.
Os Anõezinhos Bons fazem seu trabalho silenciosamente sem desejar agradecimentos ou recompensas. Fazem porque estão convencidos de que isto constitui seu dever para com seus pais e sua família; algumas vezes isto custará um pouco,quando estão cansados ou quando tem vontade de brincar, mas eles se lembram que isto é o seu dever e que dever está acima de tudo.
Tonico e João, após terem ouvido a velha Coruja, levantavam-se cedo, varriam a casa, acediam o fogo, preparavam o café e voltavam muito quietinhos para a cama. Quando sua avó e seu pai acordavam, e pensavam em fazer todo o serviço, ficavam espantados de encontrar tudo feito e pensaram que alguma fada os tinha visitado.
Manual do Lobinho de B.P.
OBS: Caro escotista, lembre-se que não é necessário decorar ou ler esta história exatamente como está, o importante é internalizar o conteúdo principal e depois contá-la aos lobinhos. Deixamos como indicação o livro “Técnicas de Contar histórias” – Ed. Vozes, de Vânia Dohme, que orienta com várias técnicas, diferentes maneiras para contar histórias.
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